A psicologia nos livros de Agatha Christie: por que mistérios e crimes fascinam tanto?
Este é o primeiro de vários posts em que vou me focar em fazer análises de livros, explorando os aspectos psicológicos deles. Como uma autora que gosta muito de literatura e psicologia, busco sempre explorar esses elementos em minhas obras.
Voltando: por que os gêneros de mistério e crimes fazem tanto sucesso? A razão disso está justamente em algo que poucas pessoas podem associar: a psicologia.
Os livros de mistério e policiais, como os de Agatha Christie, podem ter uma relação interessante com a nossa mente e comportamento. Você deve estar se perguntando como?
Ao expôr o leitor um quebra-cabeça sem aparente solução, os escritores, sejam de forma consciente ou não, estão explorando a mente humana ao proporcionar uma compreensão mais profunda de suas personalidades, traumas e motivações. A complexidade psicológica dos detetives e dos próprios criminosos desempenha um papel crucial na trama, envolvendo os leitores em uma experiência que desafia sua própria capacidade de raciocínio e empatia.
E nisso Agatha Christie é ímpar.
A premissa básica é algo que todos gostariam de entender: por que as pessoas escondem coisas?
Agatha mostrou-se hábil em explorar medos e neuroses. A habilidade da autora em manipular as percepções dos leitores, criando reviravoltas e revelações psicologicamente impactantes, é fundamental para o sucesso desses livros. É justamente isso que cativa os leitores ao longo dos anos. Os personagens de Agatha podem não ser tão detalhados e desenvolvidos de acordo com a alta literatura, mas se adaptam perfeitamente às emoções humanas.
Dois de seus personagens icônicos mostram bem a diferença da psicologia dos seus detetives.
Poirot Hercule
Destaca-se como um personagem que explora a psicologia social, propondo-se a descrever, compreender e explicar as ações e as relações humanas dentro de um contexto social.
Culpados têm algo a esconder e passam a criar falsas impressões para mascarar objetivos secretos.
O que isso significa? As ações encobrem as verdadeiras intenções: o ódio vem mascarado de amor, a manipulação vem mascarado de compaixão. Conclusão: as pessoas não são o que parecem ser.
Sem dúvidas, este foi o maior personagem da autora, estando presente em 40 de suas obras. Com uma personalidade mesquinha e egoísta, acredita-se que a própria Agatha não gostava dele, justo por sua personalidade? Sim, há casos de amor e ódio entre criador e criatura até mesmo na literatura. (rsrsrs)
Miss Apple
Essa é a detetive da psicologia descritiva: os esclarecimentos dos fatos advém da experiência interna, dos elementos simples da vida e de suas ligações.
A solução para a maioria dos problemas está na conversa atenta e nos detalhes que o outro comunica.
Intuitiva e feliz, a solteirona, velha e exigente, passava a maior parte do tempo tricotando, cuidando do jardim, fofocando e resolvendo crimes como se fosse uma especialista nisso. Isso gera ou não muito empatia e conexão?
Mesmo as pessoas mais inocentes e respeitáveis pode esconder segredos sórdidos. A verdade pode estar escondida atrás das aparências mais convencionais.
O que Freud e Agatha têm a ver?
Poucos sabem, mas Freud era um grande fã da autora e frequentemente conseguia identificar o vilão antes do final.
Agatha se espelha no leitor, promovendo um sutil senso de conluio com os personagens, descrições, acontecimentos e comentários sobre a comédia de costumes retratada no desenrolar da trama. Sob está luz, poderíamos argumentar que o livro nos analisa,coletando nossas projeções e fornecendo uma fonte inesgotável de autointerpretação (L’ Esprit du Temps, 2006)