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Kafka e a Carta ao Pai: Uma leitura íntima sobre a dor de ser Filho
Antes de começar esta análise, imagine comigo: de um lado, um pai totalmente voltado à lógica e à realização: um homem de pés no chão. Do outro, uma criança sensível, emotiva, sonhadora (e que viria a se tornar um dos maiores escritores do século XX). Percebe o abismo entre o que um pode oferecer e o que o outro precisa receber? Esse abismo (intransponível, doloroso e silencioso) foi escrito por Kafka em uma carta de quase cem páginas. Caro Kafka, Não o julgo culpado por ter escrito uma carta tão dura ao seu pai e ele nunca a tenha lido, pois sua mãe impediu que a carta chegasse ao destinatário,…
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Literatura como Espaço de Desejo: Entre o Leitor e o Livro
Outro dia, esbarrei com essa ideia circulando pelas redes: “Sentir sono ao lado de alguém é sinal de amor.” A frase me pegou de jeito — não tanto pela curiosidade científica, mas pelo que ela sugere: que há segurança, intimidade e entrega quando o corpo relaxa ao lado de alguém. E se esse alguém não for uma pessoa, mas um livro? Ou um personagem? Ou uma história? Foi com isso na cabeça que criei a tirinha (usei IA, já que o desenho não é meu forte, e meu blog não tem fins comerciais). Nela, o sono não surge só como sinal de amor, mas talvez como entrada num mundo de…
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Ler O Idiota e me sentir como um
Spoiler: Esse texto é tão fragmentado, frustrante e arrastado quanto a minha experiência lendo O Idiota. A forma segue a sensação. Comecei a ler O Idiota com a expectativa de ser conduzida, mais uma vez, para dentro da mente humana como em Crime e Castigo, de ser arrastada por Dostoiévski para dentro do que há de mais obscuro e verdadeiro em nós. Mas o que encontrei foi uma narrativa confusa, desfragmentada, sem uma motivação clara de nenhum dos personagens, cenas carregadas de tensão mas desprovidas de direção. Por quase 40% do livro, fui eu quem se sentiu a idiota. A proposta de simular, por meio da forma, a própria confusão…
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Musashi de Eiji Yoshikawa e o despertar do guerreiro que existe dentro de nós: análise psicológica
Musashi, de Eiji Yoshikawa, não é apenas um romance sobre um samurai lendário; é uma jornada de autodescoberta e crescimento pessoal que ressoa através dos tempos. Escrito entre 1935 e 1939, o livro mistura ficção e não-ficção, levando os leitores a conhecer o coração do Japão medieval enquanto seguimos Musashi em sua busca pelo autoconhecimento e maestria no caminho da espada. A parte mais impressionante desse livro é a força do que Jung chamou de inconsciente coletivo. Uma história de uma cultura diferente, em uma época remota, que ainda encanta leitores com suas as lutas, fracassos, tragédias, autorreflexões e crescimento vivenciados pelos personagens. Uma história cujo enredo não se baseia…
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Os Arquétipos do Homem Pequeno e do Inválido em “A Morte de Ivan Ilitch”
A Morte de Ivan Ilitch é uma novela escrita por Liev Tolstói, publicada pela primeira vez em 1886. A história trata da vida e da morte de Ivan Ilitch, um juiz do tribunal russo, e é uma reflexão profunda sobre a mortalidade, o sentido da vida e a hipocrisia social (também vista em Crime e Castigo de Fiódor Dostoiévski) Arquétipo do Homem pequeno Na literatura russa, existe o arquétipo do “homem pequeno”, que se refere aos burocratas: funcionários presos à rotina, às excessivas formalidades e burocracias. Nesta novela, Tolstói transporta esse arquétipo para o interior de seu personagem principal. Por trás do juiz de sucesso, esconde-se um homem comum e ambicioso,…
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Por que Machado de Assis é considerado o mestre da Literatura Brasileira?
Machado de Assis é um dos maiores nomes da literatura brasileira, com uma vasta produção que inclui nove romances, várias peças de teatro, contos, coletâneas e mais de 600 colunas em jornais. Sua genialidade o torna o mestre dos contos e, embora admirado por figuras internacionais como Philip Roth e Elizabeth Hardwick, ele ainda é pouco lido em inglês. Curiosamente, autores como Paulo Coelho são mais conhecidos lá fora. No entanto, um recente post viral no TikTok, no qual uma americana se emocionou ao ler “Memórias Póstumas de Brás Cubas” e comparou a genialidade do autor de “Dom Casmurro” a Shakespeare, pode mudar esse cenário. A obra de Machado é…