Literatura com psicologia
-
Ler O Idiota e me sentir como um
Spoiler: Esse texto é tão fragmentado, frustrante e arrastado quanto a minha experiência lendo O Idiota. A forma segue a sensação. Comecei a ler O Idiota com a expectativa de ser conduzida, mais uma vez, para dentro da mente humana como em Crime e Castigo, de ser arrastada por Dostoiévski para dentro do que há de mais obscuro e verdadeiro em nós. Mas o que encontrei foi uma narrativa confusa, desfragmentada, sem uma motivação clara de nenhum dos personagens, cenas carregadas de tensão mas desprovidas de direção. Por quase 40% do livro, fui eu quem se sentiu a idiota. A proposta de simular, por meio da forma, a própria confusão…
-
A Revolução dos Bichos: entre o totalitarismo e a psicologia das seitas
A história é tão simples quanto possível, mas a lição que ela traz é complexa e inquietante. Numa bela noite de verão, o fazendeiro Sr. Jones é deposto, e os animais tomam conta de sua fazenda. Os porcos são os animais mais inteligentes. Qualquer coisa dita a mais será spoiler. E esse é o maior desafio aqui: escrever uma análise contando ou não a história? Recomendo ler esse post depois de ter lido ou caso não se importe em conhecer a história antes de ler. Logo no início, os animais criam um hino revolucionário, cheio de esperança. Mas essa canção, como tudo na história, será pervertida. Eis um trecho que…
-
Escrever bem é fingir? E o que a IA tem a ver com isso?
A escrita exige mais do que técnica: exige empatia, imaginação e, talvez, fingimento. Neste artigo, explore o que Fernando Pessoa, a IA e a ciência cognitiva nos revelam sobre o ato de escrever bem. Sendo da geração Millennial e tendo crescido junto com a tecnologia, acredito que a enxergava de forma mais ingênua. Quando criança imaginava os robôs realizando as tarefas que a maioria das pessoas não gosta: trabalhos domésticos, repetitivos e afins. Porém, a realidade é que a inteligência artificial chegou para substituir justamente os trabalhos intelectuais e artísticos, aqueles que gostaríamos de ter mais tempo para fazer. Pelo visto, as crianças dos anos 1960 estavam mais alinhadas com…
-
Dor: quando as palavras não bastam
Eu não tinha percebido que o fato de acreditar que estava com dor não era razão suficiente para ser confiável. (Eula Biss, escritora) Talvez por isso, para tentar nomeá-la, recorremos quase sempre às metáforas: “É uma pontada”, “é como uma facada”, “parece uma queimadura”. A linguagem tropeça, e precisamos de imagens, gestos, comparações; qualquer recurso que ajude a empurrar para fora o que insiste em ficar dentro. Na literatura, o desafio é semelhante. A dor raramente se mostra de forma direta. Ela se insinua nos silêncios, nas pausas da sintaxe, nas metáforas. Às vezes, aparece disfarçada, como quando chamamos alguém de “um pé no saco”. É que a dor acontece…
-
Escrevemos melhor na dor ou na felicidade?
Será que os melhores livros nascem do desespero ou da euforia? Não é novidade que a linguagem é uma das ferramentas mais poderosas da humanidade. E a escrita, em especial, é uma forma incrível de expressar emoções: ela pode até moldar nosso humor, nosso estado afetivo e a forma como pensamos. No imaginário popular, a imagem do escritor já é bem conhecida: aquele homem barbudo, solitário, sentado numa bancada com uma máquina de escrever, fumando e bebendo café… ou talvez algo mais forte. Al-cooool… Ou então aquele mesmo barbudo, mas com cara de poucos amigos, escrevendo algo profundo como: Pois é, a ideia de que grandes obras nascem da infelicidade…
-
True Crime: Por que mulheres consomem mais conteúdos de crimes reais do que homens?
O interesse por crimes reais é um fenômeno crescente, mas há um dado que chama atenção: as mulheres são as principais consumidoras desse tipo de conteúdo. Em um estudo conduzido em 2010 , a Universidade de Illinois descobriu que as mulheres representavam 70% das avaliações de romances sobre crimes reais na Amazon. Enquanto elas optam por histórias que detalham assassinatos e crimes brutais contra vítimas que muitas vezes se parecem com elas, os homens tendem a preferir livros de não ficção sobre guerra ou violência de gangues. Mas por que as mulheres são tão atraídas por um gênero que frequentemente retrata vítimas femininas? Empatia e Identificação com as Vítimas Uma das explicações…
-
A anatomia do manipulador: Como identificar e se proteger
A manipulação é uma das estratégias psicológicas mais sutis e, ao mesmo tempo, destrutivas, capazes de afetar pessoas em qualquer ambiente – seja em um relacionamento amoroso, no trabalho, ou até mesmo na vida familiar. Neste artigo, vamos analisar a anatomia do manipulador, as táticas que eles usam para controlar, e como você pode se proteger desses jogos emocionais. Se você quiser ver como essas dinâmicas de poder e controle se desenrolam em personagens fictícios, continue lendo, pois também vou compartilhar exemplos de como a manipulação é retratada em meus livros. O Que é Manipulação? A manipulação é uma tática psicológica usada para obter controle, poder ou benefícios à custa…
-
Amêndoas: Entenda a Alexitimia e o Impacto das Emoções no Livro
Sinopse O livro conta a história de Yunjae, que nasceu com uma amígdala cerebral pequena (daí o título amêndoas) que o incapacita de entender e expressar emoções e sentimentos — condição médica conhecida como alexitimia. Sua incapacidade de expressar emoções como tristeza, alegria, e principalmente medo, o faz deste pequeno ser visto como frio e esquisito. Sua mãe, determinada a protegê-lo, cria métodos para que ele aprenda a imitar emoções e se ajuste melhor ao mundo ao seu redor. No entanto, conforme Yunjae cresce, o plano de sua mãe se torna cada vez mais inviável, e ele continua sendo alvo de bullying. Mesmo assim, Yunjae não se incomoda, pois ele…
-
Crime e Castigo, de Fiódor Dostoiévski : uma resenha psicológica e filosófica
Este é o segundo livro da literatura russa que leio, e tanto Crime e Castigo quanto A Morte de Ivan Ilitch compartilham algo sensacional: a exposição crua e realista da hipocrisia social. Em particular, Dostoiévski faz isso de forma magistral, levando o leitor para dentro da mente de um criminoso que poderia ser visto como fruto de uma sociedade miserável, mas que, na verdade, é alguém com um certo niilismo, que se julga acima do bem e do mal. Vamos analisar essa rica obra. Aviso que terão spoilers. Se ainda não leu o livro, sugiro ler este artigo apenas após. Resumo da Obra Raskolnikov, após ser forçado a abandonar os…
-
Musashi de Eiji Yoshikawa e o despertar do guerreiro que existe dentro de nós: análise psicológica
Musashi, de Eiji Yoshikawa, não é apenas um romance sobre um samurai lendário; é uma jornada de autodescoberta e crescimento pessoal que ressoa através dos tempos. Escrito entre 1935 e 1939, o livro mistura ficção e não-ficção, levando os leitores a conhecer o coração do Japão medieval enquanto seguimos Musashi em sua busca pelo autoconhecimento e maestria no caminho da espada. A parte mais impressionante desse livro é a força do que Jung chamou de inconsciente coletivo. Uma história de uma cultura diferente, em uma época remota, que ainda encanta leitores com suas as lutas, fracassos, tragédias, autorreflexões e crescimento vivenciados pelos personagens. Uma história cujo enredo não se baseia…