Como funciona a publicação de um livro?
Eu sei, você passou meses escrevendo, colocou o último ponto final e acha que seu livro está pronto para ser publicado, certo? Errado.

O processo de publicar um livro, quando se pensa realmente em entregar algo de valor para o leitor, é lento, dispendioso (caro, se for feito da forma mais correta) e trabalhoso. Vai muito além de um primeiro rascunho, porque é isso que se tem em um primeiro momento.
Vamos por partes. A primeira coisa é o seu rascunho passar por um leitor beta.
Leitores betas são como um test drive do seu livro. É um leitor que vai ler e passar suas impressões sobre a obra. Costuma ser um parente, um amigo, um leitor do seu gênero, outro escritor: enfim, alguém da sua confiança que vai te dar um termômetro do que está bom e o que precisa ser melhorado.
Via de regra, isso é feito de forma gratuita. Algumas pessoas preferem ir escrevendo e mostrando para o leitor beta. Outras (como eu) preferem primeiro escrever tudo e só depois passar pelo leitor beta; essa também é uma dica do Stephen King, no livro Sobre a escrita: a arte em memórias.
Depois desse primeiro olhar externo, cabe ao escritor avaliar sua obra e ver quais mudanças serão feitas. Aqui começa o processo de sentar novamente para reescrever e editar quantas vezes forem necessárias.
Então, você sente que está pronto, que não há mais nenhuma mudança a ser feita. Bora publicar?
Parabéns, você acaba de começar o jogo de publicar.
Você leu certo: começar.
Um adendo:
Muitas pessoas acham que vão mandar seu rascunho para uma editora e receberão um: “Amamos o seu texto, vamos publicá-lo.” A verdade não funciona assim. Tenha em mente que editoras levam meses para dar um retorno e, quase sempre, é um não. Porque é preciso mais do que um bom texto para ser aceito: eles precisam ver em você uma cifra (lucro). Mas isso é assunto para outro post.
A verdade é: toda editora trabalha com o processo de edição. Nenhum livro é publicado sem passar por esse processo de refinamento.
Aqui reside um problema: com a autopublicação, muitos autores lançam suas obras sem passar por nenhuma edição (seja por falta de dinheiro, desconhecimento do processo etc.). Isso resulta em muitas obras de baixa qualidade, o que afasta leitores, que veem livros independentes com desdém. E não dá para fechar os olhos: essa é sim uma realidade. Não é a regra, mas acontece.
Então, independentemente de você se autopublicar (fazendo boa parte do trabalho sozinho, contratando prestadores de serviço que se dizem editoras, ou freelancers), ou conseguir de fato uma editora tradicional, seu livro deveria passar por um processo de edição.
A edição
Uma editora costuma trabalhar com um esquema como este:

1. Leitura crítica e preparação editorial
Essa etapa é feita por profissionais. Um leitor crítico (às vezes chamado de preparador editorial, porque faz as duas coisas ao mesmo tempo) vai ler seu livro com um olhar técnico e literário, apontando falhas na estrutura, inconsistências de enredo, personagens ou ritmo. É como um leitor beta profissional, com foco mais técnico. E ele faz uma diferença enorme para um livro, e é também uma das partes mais caras para o autor independente.
Aqui é fundamental encontrar um bom profissional. Tem muita gente vendendo esse tipo de serviço sem ter repertório para isso. Serviços malfeitos frustram muitos autores.
“Não preciso disso, sou crítico o suficiente, posso fazer sozinho.”
Eis um problema que muitos autores (principalmente iniciantes) ignoram: é impossível o próprio escritor fazer uma leitura crítica de seu livro. As razões são muitas:
- Autores, principalmente iniciantes, têm um apego muito grande à própria obra, o que os faz achar que escreveram a coisa mais inovadora do mundo, a próxima obra-prima do gênero. Ou têm dificuldade de aceitar críticas.
- Quando você se envolve demais com o texto, passa a ter pontos cegos. Só um olhar externo vai conseguir apontar seus vícios de escrita, por exemplo.
- Nosso cérebro é traiçoeiro. O escritor tem toda a história na mente, e por isso é fácil achar que escreveu algo que, na verdade, omitiu (isso é muito comum comigo, por exemplo, com artigos, pronomes, detalhes pequenos), ou não perceber ambiguidades, pecar na clareza ou concisão.
- Um leitor crítico com bagagem literária tem muito conhecimento sobre estruturas narrativas, construção de personagens, erros comuns na escrita etc. É justo um olhar externo e não viciado que poderá fornecer uma base sólida sobre mudanças que são necessárias para tornar sua obra melhor. Quanto mais inexperiente o autor mais os olhares externos o ajudam a perceber como diferentes leitores poderão receber sua obra.
O que ninguém te conta? Se você acha que vai fazer um rascunho e mandar para uma editora tradicional (aquela que banca a publicação sem cobrar nada), sem nem ter feito uma leitura crítica, vai provavelmente receber um NÃO.
O leitor crítico vai te dar trabalho. Tenha em mente que é sempre possível deixar sua obra melhor. Isso significa reler e reescrever seu texto outra vez. Nesta parte, eu aconselho ter um leitor crítico que releia sua segunda edição. Já passei pelas duas experiências — um que não relê depois de apontar as melhorias, e outro que sim — e posso dizer: é muito melhor o que relê. Tanto pela segurança que traz quanto porque mesmo uma segunda leitura, mesmo que superficial, pode fornecer mais insights.
2. Copidesque e revisão gramatical
Com sua segunda edição (após a leitura crítica), o texto passa por uma revisão de linguagem: gramática, ortografia, concordância, fluidez de frases. O copidesque (ou preparador de texto) pode até reescrever trechos para que fiquem mais naturais ou claros, sem alterar o conteúdo.
Em seguida, entra a revisão final, para corrigir erros que ainda tenham passado.
Essa etapa pode ser cara, sim, porque é quando o texto deixa de ser um “rascunho melhorado” e começa a parecer um livro profissional.
O que ninguém te conta? O copidesque encarece ainda mais o livro, e entre ele e a revisão final, vale muito mais a pena investir na revisão. A maioria dos escritores independentes não consegue bancar os dois. O copidesque apenas “enfeita o pavão”; a revisão faz a limpeza.
3. Diagramação
Com o texto final pronto, é hora de pensar na diagramação, ou seja, como as palavras vão aparecer na página. Isso envolve escolha de fonte, margens, espaçamento, cabeçalhos, numeração de páginas etc. Uma má diagramação pode tornar o livro cansativo de ler, mesmo que o conteúdo seja bom.
Aqui, muitos escritores pagam por um profissional ou aprendem a fazer por conta própria. Eu fui do time “faça você mesma”. Isso significou gastar horas aprendendo a mexer em softwares de diagramação e aprender macetes para deixar o livro com cara profissional. Isso conta muito, especialmente para quem vai ter cópias físicas além do e-book.
Quem vai fazer apenas e-book e pretende publicar apenas na Amazon pode usar o Kindle Create.
4. Capa e identidade visual
A capa é um dos fatores mais importantes para atrair o leitor. Ela deve comunicar o gênero, o tom do livro e chamar a atenção do leitor certo. Isso inclui também a quarta capa (sinopse) e a lombada, no caso do livro físico.
O valor de uma capa de livro é extremamente variável, mas tenha em mente que, muitas vezes, é ela quem determina a compra ou não do seu livro.
Se você estiver pagando uma prestadora de serviços que se diz editora ou estiver fazendo tudo por conta própria, normalmente terá controle sobre o visual do livro. Mas isso não acontece numa editora tradicional; nesse caso, todo o projeto gráfico (diagramação, capa) é definido pelos editores.
5. Registro e ISBN e código de barra
Antes de publicar, é preciso entender algumas questões legais.
Nem todo autor registra seu livro, mas o registro funciona como uma prova legal de que a obra é sua. Para a lei, também existem outras formas de provar a autoria. Essa etapa é opcional.
O momento de registrar o livro depende de quanto você confia (ou não) nos profissionais contratados, mas o registro é uma garantia a mais. Um medo comum entre escritores iniciantes é o plágio, e o registro é uma forma de se resguardar.
Outro ponto: o ISBN funciona como a identidade (RG) do seu livro. Ele é feito por mídia, ou seja, se você tiver um livro físico e um digital, precisará de dois ISBNs. Se tiver um audiobook, precisará de um terceiro.
Livro físico é obrigado a ter ISBN, pois ele também será o código de barras. Mas você não pode simplesmente usar um gerador de código de barras e colocar o número do ISBN: é necessário obter esse código por um órgão competente. No Brasil, quem emite o ISBN é a CBL (Câmara Brasileira do Livro).
O processo é relativamente rápido e não tão caro, mas pode apresentar algumas complicações no preenchimento dos formulários. Nada impossível de aprender, especialmente com um pouco de atenção.
Além disso, a ficha catalográfica do livro deve ser emitida por um bibliotecário profissional. A própria CBL oferece todos esses serviços de forma online, o que facilita bastante para autores independentes.
Já o livro digital tem suas particularidades. Quem publica apenas na Amazon pode optar por usar o ASIN deles: um código interno parecido com o ISBN. O problema é que, para fins legais (como distribuir em outras livrarias ou se candidatar a concursos literários), o ASIN não é válido. O que comprova a publicação do livro é o ISBN. E, claro, o e-book não precisa de código de barras.
Se você chegou até aqui, então sim, você está pronto para publicar seu livro. Mas, escrever é só metade do caminho. O livro precisa ser encontrado. Isso envolve marketing:
- Redes sociais (Instagram, TikTok, YouTube, etc.)
- Booktrailers, resenhas, parcerias com influenciadores literários
- Participação em feiras, clubes de leitura, eventos
- Estratégias de lançamento e pós-lançamento
Tenha em mente que o marketing não é uma atividade isolada, você terá que pensar nele: antes, durante e após o lançamento do seu livro.
Resumindo:
Publicar um livro não é só escrever e imprimir.