A psicologia por trás do O Alienista, de Machado de Assis
Considerando que o livro “O Alienista” foi escrito antes da psicanálise, é impressionante como ele continua atual e satírico (quase profético) em suas reflexões sobre a saúde mental. A obra de Machado de Assis levanta questões essenciais que permanecem relevantes até hoje, em boa parte por combinar muito literatura com psicologia. Voltando ao alienista, o livro aborda o seguinte tema central:
Quem é louco? Quem pode dizer onde a loucura está?
Machado de Assis foi profético ao mostrar o estigma das pessoas institucionalizadas e como, até hoje, os critérios diagnósticos de saúde mental são subjetivos. Em “O Alienista,” a personagem Bacamarte se depara com a complexidade de definir a loucura, evidenciando como esses conceitos podem ser arbitrários e muitas vezes influenciados por perspectivas pessoais e sociais.
“Não sei o que é, mas sei quando vejo”.
Essa famosa fala de Bacamarte ao falar da loucura revela a dificuldade em estabelecer definições precisas para o que é considerado normal ou patológico. Com maestria, Machado mostra como somos péssimos em julgar a nós próprios, mas rápidos em fazê-lo com os outros. Este não seria um problema se tais julgamentos não fossem feitos por pessoas com grande poder e influência.
A concentração de poder e a falta de justiça
A fábula “O Alienista” deixa bem claro que não há justiça quando pessoas concentram muito poder. Bacamarte, com sua autoridade inquestionável, ilustra como a obsessão pelo controle e a incapacidade de admitir nossas próprias falhas e loucuras podem levar a consequências desastrosas. Isso reflete um aspecto do amadurecimento humano: a necessidade de deixar de controlar os outros e admitir nossas próprias vulnerabilidades e insanidades.
A Loucura: Ilha ou Continente?
“A loucura, objeto dos meus estudos, era até agora uma ilha perdida no oceano da razão; começo a suspeitar que é um continente.”
Esta citação de Bacamarte encapsula uma revelação crucial: a loucura pode ser muito mais abrangente e interconectada com a condição humana do que inicialmente se pensava. Machado de Assis nos leva a questionar se a linha entre razão e loucura é realmente tão clara ou se estamos todos, de certa forma, navegando nesse vasto continente.
O Principal Ponto da Obra: A Paradoxo da Sanidade
Talvez o principal ponto da obra seja: até que ponto permitir-nos ser conduzidos por um homem aparentemente são não nos torna também insanos? Quantos loucos estão em cargos de poder, e não no hospício? Será que há pessoas sãs internadas apenas por parecerem insanas aos olhos de uma sociedade que não reconhece a própria loucura?
Com sua genialidade, Machado trouxe uma obra que nos faz refletir sobre a importância de uma abordagem mais humana e compreensiva na saúde mental, destacando que a loucura não pode ser facilmente encapsulada em definições rígidas. Machado de Assis, através de sua narrativa envolvente e crítica, nos lembra que a verdadeira sabedoria está em reconhecer e aceitar a complexidade da condição humana. Isso tudo escrito em 1882, cá estamos em 2024 e esses temas ainda são pertinentes e debatidos.